quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

AS MISURAS DO BORÓ E DO SANSÃO CONTRA A MULHER CABELUDA

A câmera abria: uma corrente que era uma lerda, emboloava o paideguão. Ao fundo, a voz do locutor Marti Rocha, como se fora um anúncio institucional da Prefeitura, instigava: - Tome Leite Bereca! Leite Bereca: qualidade Joaquinzão”. Nesse ínterim, o Sansão, se contorcendo e gemendo como se fora obrar, fazia mungangos e, por fim, quebrava as correntes. Acabara de chegar do Rio Grande e, em Rio Branco, já virara ídolo. Exibia os músculos tufando as camisetas regata que usava, e os meninos da época achavam que ele só queria ser o Maciste. E eles, os meninos, queriam era arremedar o Sansão, que rasgava com as mãos latas de querosene, ruía cacos de vidro e dava caratê em vulcapiso, entre outras coisas, que fizeram dele um cara temível, um lutador de Vale- tudo que não batia fofo, nunca. Ele e o Professor Chile, que viera de São Paulo começaram a procurar discípulos pela cidade e foi na frente do Palácio Rio Branco que Chile achou uma quadra de esportes, lotada. Ali, em frente ao Bar Municipal era uma ruma e Chile arrebanhou uma embiricica, todos interessados naquela estranha mas divertida arte. Boró, menino nascidona beira do Rio Acre foi o que mais se destacou entre todos. Ainda franzino, encarou ser lutador de Vale - tudo e ainda chegou a rasgar moedas, latas de leite e tijolos, pra deleite de crescente legião de seguidores. Nos tempos que se seguiram, Chile, Sansão e Boro promoveram grandes espetáculos, mas não só na capital. Com o passar dos anos, vieram ainda Diabo Louro, Jorge Alicate, Cláudio Homem- de - Ferro, Lourenço e entre outros notórios Ted Boy Marinos regionais, campeões dos anos 60 e 70. Mas, com o aumento da oferta de ídolos, o mercado das lutas foi sendo pequeno pra sustentar todo mundo. Era preciso ainda mais criatividade. Sansão, Boró e Jorge Alicate foram bater em Brasiléia, porque, além de lutar, também gostavam duma Cocal, que ninguém ali era de ferro. Depois de vários dias, já sem dinheiro pra quitar o hotel ou pegar o rumo de casa, decidiram dar o “golpe de mestre”. - Jorge, nós arranjamos uma roupa de mulher e vamos fazer a luta no cinema! sentenciou Boro, veleiro. O anúncio pela cidade era “A luta do século: Sansão e Boro X Mulher Cabeluda”, e isso agitou Brasiléia até o dia “ D”. O pé de peia comeu solto, catiripapo pra todo lado, mas, no final, a Mulher Cabeluda era derrotada diante de uma platéia abismada. - Era tudo marmelada! Revela o hoje agricultor Boró. Mas a bilheteria pagou o hotel, o transporte de volta a Rio Branco e os três heróis do Telequete acriano ainda ficaram com algum, suficiente pra tomar um mata- bicho no Tabira.


MINICICIONÁRIO DE ACREANÊS

LERDA – Relativo a grande ou lento MISURA – Mesura, teatro, trejeitos PAIDEGUÃO – Enorme EMBOLOADO – Enrolado MARTI ROCHA – Locutor de rádio, baiano, que morou no Acre LEITE BERECA – Primeiro leite em pó fabricado no Acre MUNGANGO – Mesmo que mesura TUFANDO – Inflando MACISTE – Herói dos filmes épicops de antigamente BATER FÔFO – Dar mole, amarelar, capitular FRANZINO – Magrinho EMBIRICICA – tipo uma ruma, um monte, encangado COCAL – Aguardente paraense que se bebia no Acre VELEIRO – Esperto, safo PÉ DE PEIA – Briga, luta, confusão COMEU SOLTO – Transcorreu livremente CATIRIPAPO – Tapas, pescoções, luta física ABISMADA – Estupefada MATA- BICHO – Drinque TABIRA – Ambiente onde labutavam mulheres de moral não duvidosa, que os nossos pais não freqüentaram (nem nós) e que ficava na Experimental, depois da Izaura Parente, e era... (Opa!)

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