- Ai...ui, bebê! resmungava a vitalina.
-Ahh, neném! golfava de amor o pinto –calçudo, o romântico par da moça- velha, que havia estado no caritó até àquele encontro especial, no dia em que conheceu o homem de sua vida.
Ele era muito mais novo, mal tinha mojado. Mas aquele amor era como miséria em casa de pobre, nem acabava nem ficava pouco.
Tinham se conhecido num estrupício movido a pagode, numa esquina perto da casa dele, aonde ela sempre ia com as amigas, molhar a palavra e, quem sabe, tirar o atraso, coisa, aliás, que acabou acontecendo.
Foi na casa dela a primeira noite.
Ele cavalgou por toda a noite por aquela estrada colorida, num amor arrobertocarlizado que acabou por deixar a sujeita a cada dia mais embeiçada. Até que chegou ao ponto de se amigarem. Aquele amor ninguém empatava.
Mais velha e experiente, ela também tinha sua renda, por isso tomou a decisão de investir seus fundos no embonitamento do sorriso do pitelzinho.
Não era tão desabonitado- nem ela estava em condições de escolher muito- mas o que o tornava meio fraco das feições eram os dentes, só uns caquinhos laterais, com apenas o Ronaldinho plantado no meio, careado, mas firme.
- Vamos ao protético! lascou- lhe.
- Já é! concordou o até aí relutante Bred Pite da Colônia, convencido de que uma visitinha ao dentista não lhe faria mal nenhum.
E foram-se, apaixonados.
Poucos dias depois o caso espocou na Justiça Comunitária, um programa criado nos tempos do Pachêco pelo Tribunal de Justiça do Acre e fartamente ampliado pela Isaurinha.
Nos autos, a decepcionada querelante pedia indenização, porque, depois que restaurou o sorriso do seu amado com aquela chapa maravilhosa, o malino começou a não mais procurar sua companheira, falhando- segundo ela se queixara- em seus deveres conjugais. Não dava mais no couro e, ainda por cima, estava tendo o displante de deixar sua amada amante queimando Óleo 30 sozinha.
A pufia foi resolvida pela juiz Denise Bonfim, na Segunda Vara Cível de Rio Branco, com base na Lei Maria da Penha.
O cabra rangeu os dentes postiços, mas teve de cumprir a sentença e bancar ele mesmo as prestações da dentadura, pelo que- justiça feita- a decepcionada vitalina economizou os fundos, para investir em outro amor- bandido.
O caso entrou para os anais da Justiça Acreana.
MINIDICIONÁRIO DE ACREANÊS
VITALINA – Idosa que nunca se casou
GOLFAVA – Arrotava
MOÇA- VELHA – Solteirona
PINTO- CALÇUDO – Meninão
CARITÓ – Estado de solteirice
MOJADO – Saído da puberdade
ESTRUPÍCIO – Siribôlo festivo
MOLHAR A PALAVRA – Tomar um; beber álcool
TIRAR O ATRASO – Tirar o atraso, ora!
ARROBERTOCARLIZADO – À maneira de Roberto Carlos
EMPATAVA – Interrompia; fazia parar
EMBEIÇADA – Apaixonada
EMBONITAMENTO – Processo de tornar bonito
PITEL – Jovem bonito(a) amadurecido(a) precocemente
DESABONITADO – Que perdeu a beleza
FRACO DAS FEIÇÕES – Feio
ESPOCOU – Estourou; fez barulho
PACHÊCO – Ex-desembargador Jérsey Pachêco Nunes, que presidiu o Tribunal de Justiça do Acre
IZAURINHA – Desembargadora, ex-presidente do Tribunal de Justiça do Acre
CHAPA – Prótese dentária, dentadura artificial
MALINO – Que pratica o mal; danado; hiperativo
QUEIMANDO ÓLEO 30 – Ardendo de amor
PUFIA – Porfia; contenda; disputa
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