sábado, 28 de março de 2009
CAMINHO DAS ÍNDIAS - A NOVELA
HORA DO QUINARÍ

VIGÍLIA PELA LUZ
Aproveitando a deixa das entidades que se engajaram no movimento contra o aquecimento global, este blog, pois, conclama os seus 16 leitores do Quinarí e adjascências a ligarem hoje pelo menos um bocal cada um durante uma hora em protesto contra o aquecimento das geladeiras e enferrujamento dos aparelhos de ar condicionado.
Se na hora do protesto das Ongs governamentais e não- governamentais – lá pras 8 e meia da noite- alguma lâmpada estiver acesa no Quinarí, teremos o maior prazer em desligar todos os 16 bocais contra o aquecimento global e em homenagem à Eletroacre.
sábado, 21 de março de 2009
EXCLUSIVO!

No elenco, estréia Edith Pianko, com participações especiais de Terryvel Aquino, Antônio Maiscêdo e grande elenco do MPF.
sexta-feira, 20 de março de 2009
BIG BROTHER DO BINHO
ENQUETE
terça-feira, 17 de março de 2009
A MULHER DO SEU GIVALDO E A FERRADA DE ARRAIA
A Travessa da Saudade estava abismada com o siribôlo na casa da Dona França, a Viúva, que acoitava aquela ruma de cearenses. O berreiro, porém, vinha da casa de trás, alugada àquela penca de vendedores de colchas de chanil e de redes.
Eram marromeno 5 e Meia da tarde quando terminara a pelada e o pau -de- arara saira rumo à Praia da Base, onde, de costume, todos iam se assear e, depois, voltavam pra casa, pra assistirem à Bola é Nossa. Mas, naquele dia, logo à boquinha da noite, Nascimento teve caé.
Mal deu três passos dentro dágua, o esporão da arraia encastuou-se ao seu mocotó, fazendo um banzeiro de sangue medonho e obrigando a todos a voltarem abirobados pra casa.
Ninguém ali sabia nada de arraia além de que a dor do ferrão dura 24 horas, sem remédio alopático, pelo menos àquele tempo, conhecido. E que aquela seria uma noite marcada para sempre na vida de Nascimento, o ferrado, e para toda a rua, que ouvia compadecida aos gritos de “Ai Mamãe!” de tamanho homem, um negão que era um lerdo, virado um bruguelo que levou um golpe de caco de vidro.
Lá pelas tantas, Nascimento, todo breado de lágrimas, plantava bananeira na casa da Dona França, que, toda solidária, não negava assistência ao moribundo. Foi quando partiu, sabe- se lá de quem, a idéia de que pra ferrada de arraia só havia um remédio, e esse remédio estava na natureza. Na natureza da mulher, melhor dizendo.
Segundo a prescrição, alguma voluntária teria que......teria que...bem, teria que passar a coisa, o troço, aquilo lá...teria que passar o bicho, polindo o pé ferrado.
Buscou-se na Travessa da Saudade a fada, aquela que faria a caridade, mas, com a recusa das primeiras aceradas, a dor de Nascimento só aumentava, mista da peçonha da arraia da Praia da Base e da rejeição ao seu apelo dramático: - Alguém, pelamor de Deuso, avie e arrume uma mulher que passe o bicho em cima dessa pereba danada! clamava.
Foi quando sugeriram: - Arre, vamos pedir à Mulher do Seu Givaldo!
Seu Givaldo tinha ido de Setentinha a Sena Madureira e nem naquela pelada estivera, mas tanto fazia: o importante era que a mulher dele estava ali e a dor do Nascimento só aumentava com o avançar da noite, e ninguém sequer tinha se lembrado de assistir A Bola é Nossa.
A reca de pedintes foi ter com a jovem senhora.
Foram tantos os pedidos, tão singelos, tão sofridos que ela dominou seu asco: - Tá! assentiu, convencida de que a causa era nobre e( Pelamor de Deus!), que é que custava passar aquilo lá...lá?
Puxaram um tamborête, treparam o pé ferrado de arraia do Nascimento e a ordem na casa foi de que todos deveriam arredar, pois naquela hora a Mulher do Seu Givaldo executaria o ritual de cura.
Ninguém diz que foi testemunha da “Dança da garrafa”, mas a jovem senhora era a alegria da meninada da Travessa da Saudade. Seus cabelos negros longos de dançarina flamenca encobriam as costas brancas quase sempre desnudas, que eram a antítese do seu plexo, ornado por dois volumes recheados, mode dois obeliscos furando a pracinha em frente ao Palácio do Governo. Arre!
Nascimento gritava, estribuchava e gemia como se houvera comido maionese azêda.
De repente, porém, fez- se um silêncio sepulcral.
A partir de então, a Travessa da Saudade fechou-se em copas.
Ninguém falava sobre o ritual de cura da ferrada de arraia do pé do Nascimento protagonizado pela caridosa Mulher do Seu Givaldo. A omissão dolosa porém solidária impestava o ar da vizinhança de cumplicidade e...medo. Afinal, Seu Givaldo iria voltar de Sena e, mais cedo ou mais tarde, alguém daria com a língua nos dentes.
Vrrummmmm! Vruuummmmm!
A Setentinha riscou os tijolos da Travessa da Saudade numa tarde calourenta uns dois dias depois, Nascimento curadíssimo.
Quando o viajante entrou em casa, a pura jovem senhora, num suspiro de ingenuidade e inocência, contou- lhe o feito caridoso.
Seu Givaldo, do alto dos seus quase 1 metro e 60 centímetos de altura, começou a açoitar a esposa ainda dentro da pequena casa, onde rasgou-lhe as vestes, e ela, amedrontada, ganhou o terreiro sem corpête.
A mulher ganhou a rua, azunhada e puxada pelos cabelos longos negros, chorando mais do que o Nascimento no dia da ferrada, mas uma geração inteira naquele noite deleitou-se com o infortúnio dela, que exibia atubibada tudo o que só Seu Givaldo havia visto de perto, se é que o Nascimento também não olhou naquela memorável noite da ferrada de arraia.
Não fosse pela mão de peia da pobrezinha, até hoje os meninos da Travessa da Saudade se banhariam na Praia da Base, onde a ferrada de arraia passou a ser naquele tempo uma aspiração praticamente coletiva.
Mas por causa daquele episódio foi que se veio saber que o que a Mulher do Seu Givaldo passou na ferrada de arraia do Nascimento é também santo remédio para qualquer outra enfermidade, Amém!
MINIDICIONÁRIO DE ACREANÊS
ABISMADA – Admirada
SIRIBÔLO – Evento festivo
ACOITAVA – Hospedava; dava guarida
BERREIRO – Gritaria; choro alto
CHANIL – Tecido chenille
MARROMENO – Mais ou menos
PAU-DE-ARARA – Caminhão lotado de nordestinos
A BOLA É NOSSA – Programa de esportes da antiga TV Acre, apresentado pelo saudoso repórter Campos Pereira
BOQUINHA DA NOITE – À noitinha
CAÉ – Azar
ENCASTUOU-SE – Encaixou- se; ligou-se
MOCOTÓ – Tornozelo
BANZEIRO – Movimento de águas; ocorrência
ABIROBADOS – Atordoados
LERDO – Grandão; lento
BRUGUELO – Bebezinho
GOLPE – Corte; furo
BREADO – Embebido; melado; encharcado
PLANTANDO BANANEIRA – de ponta cabeça
ACERADAS –Assediadas
AVIE –Se apresse!
SETENTINHA – Moto de 70 cilindradas
RECA – Turma
TAMBORÊTE – Banquinho de madeira
ARREDAR – Afastar
MODE – À moda; tal e qual
IMPESTAVA – Infestava
CORPÊTE – Suitã
AZUNHADA – Arranhada por unhas
ATUBIBADA- Desnorteadas, nervosa
BIG BROTHER DO BINHO
PEDRO MIAU
Nossos heróis continuam até o pescoço na Casa mais animada do Acre.
Esta semana a paz voltou a reinar entre a equipe tucana, ao que tudo indica já por causa da nova política de segurança pública da Big Sister Márcia do Julhinho.
Edy Zé Gipty pegou Dengue na Casa mais epidemiológica do Brasil e a Equipe da Fundhacre está no próximo Paredão acusada pela imprensa extraoficial marron e desobediente de sovinar medicamento ao Big Brother Bão, pai do Binho.
Bão Marques só queria uma “Azulzinha”, mas o sistema público de saúde não é como o de Comunicação, e brochou.
Vamos continuar espiando, grampeando, obrando e andando.
domingo, 8 de março de 2009
A MÃO DO ZÉ JACA
Na verdade, ali tem até galêgos, uns cabras com cara de piçarra dos pés à cabeça e ozói azuis. Tradicionalmente oposicionista aos governos do Acre, a mundiça dalí tinha uma asa quebrada pros lados do MDB, e foi isso que naquela noite levou Zé Jaca ao comício.
- Beus abigos de Rodrigues Alves....patatí, patatá! Abarcava o candidato a senador Flaviano Melo, de cima do caminhão, amancornado com as lideranças políticas da região.
O PMDB daquela época possuía um grupo de elite à moda do Abiládio, gente que tinha como incumbência fazer a zuada e espocar os fogos na hora em que Flaviano fosse anunciado pelo locutor do comício. Mas Zé Jaca, empolgado, decidiu que faria parte daquele time, ora! E lá se foi. Quando Flaviano Melo foi anunciado orador, o siribôlo de fogos começou, mas o salseiro foi interrompido pelos gritos de Ai! Ai!
Quando os organizadores deram fé, havia um foguete espocado ainda seguro por uma mão sem dono e Zé Jaca, todo ensangüentado, aos gritos, cotó.
Leva o homem pro hospital, aduba daqui, aduba dalí, botaram um Pranticuri, e pronto: Zé Paca tinha perdido a mão, mas tava vivo.
Vivo pra começar a agrura de reencontrar o jeito de dar corda no lustroso Seiko 5 que ostentava no outro braço. Pede daqui, ajeita dalí, assesssores de Flaviano prometeram fazer de tudo pra Zé Jaca obter uma prótese etc. Que nada!
Em todas as eleições seguintes Zé Jaca era o único que não aplaudia, mas marcava de perto os candidatos, pra ver se alguém lhe dava uma mãozinha (Tsk!), mas...nada.
Batendo perna por aquelas paragens, lá se vem Idalina Onofre, fazendo campanha à deputança estadual, que, dá fé, lá vê o homem, simpático e educado...
- Seu Zé Jaca, me procure, que eu vou lhe dar uma mão! Prometeu. E cumpriu.
Tempos depois, porém, Idalina está assistindo à Tevê do Padres de Cruzeiro do Sul e a reportagem mostra um homem que havia sido escolhido o mais elegante numa festa católica em Rodigue Alves. - Minino, é o Seu Zé Jaca!!! Mas cadê a mão dele?? bradou Idalina. E um cabra, ao lado dela: - Deputada, ele agora sai sem ela pra não ter que apertar mão de político!
MINIDICIONÁRIO DE ACREANÊS
ATÉ O TALO – Cheio
GALÊGOS – Pessoas brancas de cabelo avermelhado
CARA DE PIÇARRA – Rosto avermelhado
PIÇARRA – Tipo de pedra usada em pavimentação no Acre
ASA QUEBRADA-Propensão; preferência
AMANCORNADO – Junto, misturado.
ABILÁDIO – Osama Bin Laden
ZUADA – Barulho intenso
ESPOCAR – Estourar
SIRIBÔLO – Festejo
SALSEIRO – Festividade animada
COTÓ – Faltando um pedaço
PRANTICÚRI – Curativo
BATENDO PERNA- Em andança
sábado, 7 de março de 2009
terça-feira, 3 de março de 2009
ACRE ME TENS DE REGRESSO!
- Ding, dong! Gritou o aeroporto no meu peduvido.
-Deus, eu nem acredito nisso. O que eu vou fazer lá? Indaguei ao Espírito, capiongo como quem não gosta de sair de casa, viajar sozinho pela lapa do mundo.
Empombei e, em menos de fósforo, estava na fila do embarque, atrás duma réa que arrastava dois meninos buchudos, amarelos empambados e com os olhos de jabuti comendo cajá.
-Devem ser de Porto Velho! Pensei alto, com o olhar no pinga pinga de quem sai do Galeão de madrugada rumo a Rio Branco.
Do vera, de lá pra cá até o tratamento dos comissários vem mudando.
O povo que embarca vem mudando.
- Lá, eu conheço até os cabras que empurram o avião! Continuo matutando, agora sobre o fim do caminho. “Faltam só mais umas seis horas...já, já eu chego em casa!”, me escancho na esperança.
Quem sabe aonde vai não tropeça no caminho!
- Bam! Bam! Bam!
A zuada, lá longe abafa o ronco, que tira fino do ar- condicionado comprado fiado ao Dilô, amigão de sempre e que, sem consentimento da Fatinha, acha que eu dou pra deputado.
O paidéguão de 30 mil BTU’s também não abafa os gritos da atubibada dupla da Roda Viva, eficiente que nem diácono em Santa Ceia, mais obediente do que ajudante de missa.
- Bom dia! Respondo, barra- limpa: feliz com o final da novela; certo do adeus ao Rio.
Também, pudera: vim pra não ficar mas fui ficando...fiquei!
Toda vez que o aeroporto grita – Ding..dong! no meu peduvido eu lembro da ida.
Eu achava que ia ficar, mas fui voltando...voltei!
- Seu Antônio, sua mudança chegou! Onde nós descarregamos? Me avisam, eu custo a crer.
– Puxa, vou dormir de novo na minha cama, e é bem capaz que a minha camisa do Botafogo ainda esteja limpa! Penso alto, vendo a velha casa e sua portabilidade.
Só acreano e jabuti carregam a casa nas costas.
A bandeirinha da Minha Pátria está dentro de uma caixa dessas, entre as páginas da minha Bíblia Shedd, engilhada e cheia de poeira, desses quase seis meses em que ouvi o – Ding..dong! do Galeão e deixei os cultos da minha amada igreja de Copacabana.
No fundo, o Espírito já tinha me avisado.
Com olhos de jabutí comendo cajá, agora eu sei: voltei!
- Vô!
É o Natan, reivindicando o mingau!
Meu netinho vai ser acreano.
O aeroporto me chama, de novo:
-Atenção, senhores passageiros com destino a Cruzeiro do Sul...
É bem ali; segunda- feira eu tô no Quinarí. Agora eu to em casa.
MINIDICIONÁRIO DE ACREANÊS
PEDUVIDO – Pé do ouvido; orelha
CAPIONGO – Tristonho
LAPA DO MUNDO – Por aí; mundo afora
EMPOMBEI – Determinei- me
EM MENOS DE FÓSFORO – Rapidamente
EMPAMBADOS – Com cara de doentes
OLHOS DE JABUTÍ COMENDO CAJÁ – Olhos cheios dágua
ESCANCHO – Aboleto; sento descansado
PAIDEGUÃO – Enorme
ATUBIBADA – Agoniada
BARRA- LIMPA – Dividido em dois; picolé de dois sabores que se vendia antigamente em Rio Branco