domingo, 8 de março de 2009

A MÃO DO ZÉ JACA

Rodrigues Alves é berço do Juruá, onde a história registra que se escornaram os primeiros habitantes daquele Vale, os Kaxinawás. Mas é até o talo de brancos.
Na verdade, ali tem até galêgos, uns cabras com cara de piçarra dos pés à cabeça e ozói azuis. Tradicionalmente oposicionista aos governos do Acre, a mundiça dalí tinha uma asa quebrada pros lados do MDB, e foi isso que naquela noite levou Zé Jaca ao comício.
- Beus abigos de Rodrigues Alves....patatí, patatá! Abarcava o candidato a senador Flaviano Melo, de cima do caminhão, amancornado com as lideranças políticas da região.
O PMDB daquela época possuía um grupo de elite à moda do Abiládio, gente que tinha como incumbência fazer a zuada e espocar os fogos na hora em que Flaviano fosse anunciado pelo locutor do comício. Mas Zé Jaca, empolgado, decidiu que faria parte daquele time, ora! E lá se foi. Quando Flaviano Melo foi anunciado orador, o siribôlo de fogos começou, mas o salseiro foi interrompido pelos gritos de Ai! Ai!
Quando os organizadores deram fé, havia um foguete espocado ainda seguro por uma mão sem dono e Zé Jaca, todo ensangüentado, aos gritos, cotó.
Leva o homem pro hospital, aduba daqui, aduba dalí, botaram um Pranticuri, e pronto: Zé Paca tinha perdido a mão, mas tava vivo.
Vivo pra começar a agrura de reencontrar o jeito de dar corda no lustroso Seiko 5 que ostentava no outro braço. Pede daqui, ajeita dalí, assesssores de Flaviano prometeram fazer de tudo pra Zé Jaca obter uma prótese etc. Que nada!
Em todas as eleições seguintes Zé Jaca era o único que não aplaudia, mas marcava de perto os candidatos, pra ver se alguém lhe dava uma mãozinha (Tsk!), mas...nada.
Batendo perna por aquelas paragens, lá se vem Idalina Onofre, fazendo campanha à deputança estadual, que, dá fé, lá vê o homem, simpático e educado...
- Seu Zé Jaca, me procure, que eu vou lhe dar uma mão! Prometeu. E cumpriu.
Tempos depois, porém, Idalina está assistindo à Tevê do Padres de Cruzeiro do Sul e a reportagem mostra um homem que havia sido escolhido o mais elegante numa festa católica em Rodigue Alves. - Minino, é o Seu Zé Jaca!!! Mas cadê a mão dele?? bradou Idalina. E um cabra, ao lado dela: - Deputada, ele agora sai sem ela pra não ter que apertar mão de político!

MINIDICIONÁRIO DE ACREANÊS

ATÉ O TALO – Cheio
GALÊGOS – Pessoas brancas de cabelo avermelhado
CARA DE PIÇARRA – Rosto avermelhado
PIÇARRA – Tipo de pedra usada em pavimentação no Acre
ASA QUEBRADA-Propensão; preferência
AMANCORNADO – Junto, misturado.
ABILÁDIO – Osama Bin Laden
ZUADA – Barulho intenso
ESPOCAR – Estourar
SIRIBÔLO – Festejo
SALSEIRO – Festividade animada
COTÓ – Faltando um pedaço
PRANTICÚRI – Curativo
BATENDO PERNA- Em andança

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