O Campito já tinha mostrado na TV Acre, engilhado numa vasilha de vidro, o produto da capação de um cabra que atentou ao pudor numa seita daimista e que veio a perder os documentos na Rua Alvorada, nas biqueiras da Santa Casa.
Dizem, o Campito, já houvera perguntado a uma mãe derretida se estava mais feliz na hora em que a PM resgatara o filhinho dela, morto, de dentro de uma cacimba.
Mas o Campito era insuperável.
O cinegrafista se amoitou na cena, e ele, o Campito:
- 3, 2, 1...gravando!
E abarcou:
- A PM começou esta semana a fazer
E, depois de mostrar a Manduquinha e os dois soldados de pé, foi se aproximando deles.
O microfone, para certas pessoas, é um revólver prestes a disparar. Um holofote e um repórter, são uma tragédia.
O sujeito não teve, porém, como fugir daquele “ataque”, e o Campito continuou.
Ora, no tempo do Comandante Roberto Ferreira, cuja filosofia era que soldado não precisava andar armado, as bocas de fumo ainda eram só trinta e duas na capital, os maconheiros eram da Alta Sociedade e os meliantes mais perigosos não eram piores do que o Papa- Figo ou o Pega- Unha.
Mas a Polícia Militar resolveu lançar - se ao policiamento ostensivo, rebolando todo seu efetivo na prevenção ao crime e à violência.
Era prato cheio para a reportagem da Tv Acre, que, nos tempos do Seu Tuffi, reinava sozinha como o mais poderoso veiculo de comunicação do Estado, barrando a Andirá e a Difusora. E o Campito era um repórter que não arredava da notícia.
- Nos estamos aqui com o soldado H. Mendes (!), que vai explicar à nossa reportagem como é que funciona esse tipo de policiamento. Soldado H. Mendes, boa tarde! Como é que se chama esse policiamento, mesmo?
E mirou os queixos do soldado com o microfone, encabulando o homem, cujo sangue desceu pras pernas. O soldado, branco- branco, engasgou e...nada.
O Campito:
- É um novo método de policiamento, com dois soldados juntos...
E voltou o microfone ao gelado H. Mendes, engasgado e duro no coturno.
- É o policiamento...policiamento....Romeu e Julieta.
E o Campito, sagaz repórter do Vigilante Andirá:
- Romeu e Julieta? Quem de vocês é o Romeu?
O soldado H. Mendes, com o dedo em riste para o seu colega:
- Ele é o Julieta!
Foi o assim o lançamento do famoso Policiamento Cosme e Damião pela briosa Policia Militar do Acre, registrado ao vivo pelo intrépido repórter Pedro Paulo Menezes de Campos Pereira, para o Jornal do Acre.
MINIDICIONÁRIO DE ACREANÊS
ENGILHADOS – Encolhidos
CAPAÇÃO – Castração
DOCUMENTOS – Atestado fisiológico de macheza
BIQUEIRAS- Proximidades; cercanias
DERRETIDA – Muito emocionada
CACIMBA – Poço dágua artesanal
MANDUQUINHA – Viatura da Polícia
PAPA-FIGO – O Papa- fígado, argumento dos pais para tornar os filhos obedientes, uma espécie de Lobo Mau de Rio Branco
PEGA – UNHA – Homem que brechava mulheres a mudar de roupa e tomar banho nos quintais de Rio Branco; tarado
BRECHAVA – Espionava, espiava
REBOLANDO – Lançando
SEU TUFFI – Tuffi Assmar, comerciante da Rua Eduardo Assmar, proprietário da primeira emissora de televisão do Acre
BARRANDO – Superando
ENCABULANDO – Deixando sem jeito
BRANCO BRANCO – Pálido de medo ou timidez
VIGILANTE ANDIRÁ – Noticioso da Rádio Novo Andirá
ANDIRÁ – Rádio AM fundada pela família do Governador Francisco Wanderley Dantas, homônima do Seringal Novo Andirá, também de propriedade deles.
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