terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O FURO DE REPORTAGEM DO CAMPOS PEREIRA

O Campito já tinha mostrado na TV Acre, engilhado numa vasilha de vidro, o produto da capação de um cabra que atentou ao pudor numa seita daimista e que veio a perder os documentos na Rua Alvorada, nas biqueiras da Santa Casa.

Dizem, o Campito, já houvera perguntado a uma mãe derretida se estava mais feliz na hora em que a PM resgatara o filhinho dela, morto, de dentro de uma cacimba.

Mas o Campito era insuperável.

O cinegrafista se amoitou na cena, e ele, o Campito:

- 3, 2, 1...gravando!

E abarcou:

- A PM começou esta semana a fazer em Rio Branco uma nova modalidade de policiamento...

E, depois de mostrar a Manduquinha e os dois soldados de pé, foi se aproximando deles.

O microfone, para certas pessoas, é um revólver prestes a disparar. Um holofote e um repórter, são uma tragédia.

O sujeito não teve, porém, como fugir daquele “ataque”, e o Campito continuou.

Ora, no tempo do Comandante Roberto Ferreira, cuja filosofia era que soldado não precisava andar armado, as bocas de fumo ainda eram só trinta e duas na capital, os maconheiros eram da Alta Sociedade e os meliantes mais perigosos não eram piores do que o Papa- Figo ou o Pega- Unha.

Mas a Polícia Militar resolveu lançar - se ao policiamento ostensivo, rebolando todo seu efetivo na prevenção ao crime e à violência.

Era prato cheio para a reportagem da Tv Acre, que, nos tempos do Seu Tuffi, reinava sozinha como o mais poderoso veiculo de comunicação do Estado, barrando a Andirá e a Difusora. E o Campito era um repórter que não arredava da notícia.

- Nos estamos aqui com o soldado H. Mendes (!), que vai explicar à nossa reportagem como é que funciona esse tipo de policiamento. Soldado H. Mendes, boa tarde! Como é que se chama esse policiamento, mesmo?

E mirou os queixos do soldado com o microfone, encabulando o homem, cujo sangue desceu pras pernas. O soldado, branco- branco, engasgou e...nada.

O Campito:

- É um novo método de policiamento, com dois soldados juntos...

E voltou o microfone ao gelado H. Mendes, engasgado e duro no coturno.

- É o policiamento...policiamento....Romeu e Julieta.

E o Campito, sagaz repórter do Vigilante Andirá:

- Romeu e Julieta? Quem de vocês é o Romeu?

O soldado H. Mendes, com o dedo em riste para o seu colega:

- Ele é o Julieta!

Foi o assim o lançamento do famoso Policiamento Cosme e Damião pela briosa Policia Militar do Acre, registrado ao vivo pelo intrépido repórter Pedro Paulo Menezes de Campos Pereira, para o Jornal do Acre.

MINIDICIONÁRIO DE ACREANÊS

ENGILHADOS – Encolhidos

CAPAÇÃO – Castração

DOCUMENTOS – Atestado fisiológico de macheza

BIQUEIRAS- Proximidades; cercanias

DERRETIDA – Muito emocionada

CACIMBA – Poço dágua artesanal

MANDUQUINHA – Viatura da Polícia

PAPA-FIGO – O Papa- fígado, argumento dos pais para tornar os filhos obedientes, uma espécie de Lobo Mau de Rio Branco

PEGA – UNHA – Homem que brechava mulheres a mudar de roupa e tomar banho nos quintais de Rio Branco; tarado

BRECHAVA – Espionava, espiava

REBOLANDO – Lançando

SEU TUFFI – Tuffi Assmar, comerciante da Rua Eduardo Assmar, proprietário da primeira emissora de televisão do Acre

BARRANDO – Superando

ENCABULANDO – Deixando sem jeito

BRANCO BRANCO – Pálido de medo ou timidez

VIGILANTE ANDIRÁ – Noticioso da Rádio Novo Andirá

ANDIRÁ – Rádio AM fundada pela família do Governador Francisco Wanderley Dantas, homônima do Seringal Novo Andirá, também de propriedade deles.


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