segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

OLHA A COBRA!

Eu, a Coral e o chifre da minha Mãe

- Arre! Disse eu, ajumentando de volta à porta, chega ia tendo uma pilôra. A bicha tava lá. Se esgueirando, bem no meio do quarto. Eu sempre achei um perigo medonho esse negócio de cobras dentro de casa, principalmente se elas cismarem de entrar nos quartos, e aquela era encarnada, com a cabeça preta, e tinha o bucho acinzentado, mode um céu de cruviana. No Quinari, em certas épocas, é danado pra aparecer cobra. Aquela tava me esperando entrar no meu quarto, arremedando uma recém - casada. Marrapaz, não me obrei porque num tava pronta! Cabra do Acre, do pé rachado que nem eu deveria estar acostumado com cobra, pois , na Apolônio Sales e na Alberto Torres, lugares onde eu morei, elas vinham comer na mão. Mas eu não! Eu afrouxei. Depois do susto inicial, pensei no Luar, meu filho mais novo, que freqüenta meu banheiro de madrugada e no Natan, que também gosta de fazer festa na cama da Vovó,e decidi que ali o macho era eu. Olhei pra serpente e procurei um troço pra jogar nela, de longe, de preferência. Mas nem uma sandália me veio à vista. Seu Capitulino, o Vovô, cabra alagoano, que, pra obrar era amarrado, ficou mundialmente conhecido no Barro Vermelho, no dia que se abufelou com um gogó-de- sola e finou o bicho a tamanco. Ora, Eu tinha que arranjar uma motivação, senão a macheza não fluia! Fitei a rastejante, olhos nos olhos, que nem o Agnaldo Timóteo. Eu nos dela, ela, nos meus. Mas nada da bicha afinar. Ela armou-se pra dar o bote, e eu, pra dar o fora. Mas eu tenho mania de acordar de madrugada e, então, pensei: - Se eu deixar essa danada aqui, me acordar de madrugada pra fazer xixi e acabar achando a cobra? Era eu ou ela! - Peraí, quenga! Pensei , correndo rumo ao corredor, onde dormia um cabo de vassoura; achei uma Alpercata e voltei. Ela ainda estava lá, se rebolando e dando rabissaca, e eu, marupiara, abarquei; - Pega, filha duma égua! A sandália tirou fino dela, pra confirmar minha pontaria. Ela titubeou, eu rebolei o pau: - Pega, filha duma égua! Ela me levou a pagode. O jeito foi jogar a toalha. O mulambo estava em cima da minha cama e eu bolei a estratégia de encadear a peçonhenta, imobilizá - la e partir pras vias- de- fato com requintes Marciais. A toalha cobriu - lhe as oiças, ela se encandiou e eu executei o Wippon. Imobilizada, ela cegou e eu a finalizei a certeiros golpes de rodo de banheiro. Ufa! A finada ficou ali até eu conseguir fôlego pra jogar seus restos mortais na calçada. No dia seguinte, passei na casa da Mamãe, ainda mal dormido e budejando, mas ela, me tranquilizou. - Meu filho, chifre queimado espanta cobras! E eu: - Mas Mãe, eu vou pro jornal agora, onde eu vou arranjar isso? E ela: - Quando terminar sua coluna, passe aqui pra levar um chifre. E eu, olhando de banda: - Mãe, deixe as bichinhas lá mesmo! MINIDICIONÁRIO DE ACREANÊS
AJUMENTANDO – Apressadamente; ás carreiras PILÔRA – Chilique; desmaio SE ESGUEIRANDO – Se arrastando ENCARNADA – Vermelha MODE – Tal e qual; á semelhança de CRUVIANA – Chuva que antecede a Friagem; ARREMEDANDO – Imitando MARRAPAZ! – Mas, rapaz,... DO PÉ RACHADO – Diz- se do acreano legítimo OBREI - Evacuei APOLÔNIO SALES, ALBERTO TORRES, BARRO VEMELHO – Antigas vilas, colônias dos arredores de Rio Branco AFROUXEI – Tive medo; desisti ABUFELOU – Agarrou GOGÓ- DE- SOLA – Tipo de macaco minúsculo que aterroriza seringueiros por sua periculosidade TROÇO – Coisa qualquer PRA OBRAR É AMARRADO – Valente demais; extremado AFINAR – O mesmo que desistir, capitular ALPERCATA - Sandália RABISSACA – Gesto de virar o rosto abruptamente em sinal de desdém MARUPIARA – Bom de pontaria TIROU FINO – Passou rente; passou muito perto LEVOU A PAGODE – Não levou a sério; desdenhou MULAMBO – Molambo, pedaço de pano velho OIÇAS - Ouvidos ENCANDEAR – Turvar a visão VIAS- DE – FATO – Agressão física FINADA – Defunta; morta BUDEJANDO – Maldizendo- se; reclamando

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