O Hotel La Hacienda, no coração de Miraflores, era também um cassino e a comitiva de empresários, políticos e jornalistas acreanos, que mal tinha chegado de Puerto Maldonado, àquela noite decidira conhecer o Bacará e entupir o bucho de Pisco.
O recado na Portaria dava conta de que o Presidente Fujimóri teria “satisfación” de receber aquela penca de jornalistas para uma viagenzinha à Zona Roja, onde o governo prendera, fazia pedaço, o líder do grupo terrorista Sendero Luminoso, por nome Abimael Guzman. A reportagem estava eufórica, mas ninguém recuara diante do conforto do La Hacienda, agenda marcada para de bem manhãzinha. Os políticos e empresários (bah!) ... eles que fossem fazer negócios.
A reportagem acordou cedo. Todo mundo havia ido deitar com o bucho tufado de Pisco e amanhecia com aquele gosto de corrimão de leprosário na boca.
Quem sai de Rio Branco para entrar no Peru tem que, primeiro, conhecer a parte mais difícil, que é pegar um teco- teco até Maldonado, depois esperar um Boeing lá para, só depois, subir a Cuzco e, então, rumar a Lima, um trololó amuado. Nesse percurso as roupas da Reportagem estavam engilhadas e a iminência do embarque ao lado de Fujimóri rumo a Puno atubibava a todos, loucos para resolver as pendengas e azular, pra não perder a chance.
- Liga para Servício de cuarto! Disse o colega ao irrequieto e ainda meio zuruó cinegrafista Josenir Melo. Obediente, ele...
- Alô?
E do outro lado da linha: - Sí, señor, que desea?
- Senhora, eu quero passar mi roupa!
Aquilo deve ter fervido o juízo da atenciosa mulher do Serviço de Quarto, que, ainda assim, decidiu considerar o Portunhol e perseverou.
- Non comprendo...
E o Josenir, se aperreando.
- Senhora, Jô quiero engomar mi roupa!
- Señor, non comprendo...o que desea?
Virando- se para o colega de quarto, Josenir, apoplético, desabafa: - A buesta dessa mulher não entende patavina de Espanhol!
E ela, ainda resistente: - Senõr, non desea planchar La roupa?
E ele: - Plante essa mierda!
- Triimm!
A campainha soou minutos depois no apartamento, quando a boa mujer recolheu a roupa para planchar, momentos de angústia de quem não fazia idéia do que aconteceria com um terno velho amarrotado para a viagem.
Roupa- Graças a Dios! devidamente planchada e aquele gosto de cabo de guarda- chuva na boca, Josenir confessa:
- Tô com uma sede lascada!
- Liga pro Servício de Cuarto!
- Triiimm! tocou o telefone no zuvido da boa mujer.
- Senhora! disse o sotaque tarauacaense do outro lado da linha, clamando em Portunhol Clássico:
- Senõra, Jô stôi con siêde. Quiero una Cueca- cuola com hiêlo! Si, uma Cuoca- cuela e, por fabor, com dos cuepos!
E viajamos para Ruliaca, com roupa planchada e o bucho tufado de Cueca.
MINIDICIONÁRIO DE ACREANÊS
PISCO – Tipo de cachaça deles lá.
PENCA – Ruma.
ZURUÓ – Zonzo
DE MANHÃZINHA – Cedinho da manhã
TUFADO – Cheio, lotado.
TECO – TECO – Avião pequeno de hélice
TROLOLÓ – Confusão
ENGILHADO – Amassado; encolhido
ATUBIBADA – Perturbada
PENDENGA – Pendência; arenga
AZULAR – Correr; rumar
Ontõi, tu foi buscar lembranças do tempo do baú. Se não me engano o aero que nos levou até P. Maldonado era um Bandeirantes com cmte Reis e o enrrolado do carlinhos. []'s
ResponderExcluirZépescador
Nota: ainda me lembro da piada q vc contou na viagem de "limusine" (pau de arara peruano) até o aeroporto, dos médicos contando suas façanhas da medicina onde o brasileiro tapou o cérebro do menino com mierda e ele se tornou governador, será q esse médico não operou, tbm, outro menino que hoje é...