sábado, 9 de maio de 2009

O SOLDADO ESCAMBICHADO NO TABOCAL

- Pega! bradou o chefe da guarnição da velha Penal, em cujo açude cismavam de se “afogar” jabutis- fujões nos tempos do Aluízio Queiroz.

Ficava ali, naquela forquilha onde se quebra no rumo do Calafate ou em direção a Sena Madureira. Virou escola de formação de soldados da PM.

Na boquinha da noite um magote de detentos derrapou na quiçassa, abirobando os peemes, que tinham assumido a Penal logo depois que o Governo deu à Polícia a obrigação que havia sido tirada dos agentes da Secretaria de Interior e Justiça.

Aquilo fechou o tempo no lugar, que ficou mais perigoso do que votação em lista.

A embiricica de fujões azulou no mato e, quando tocou a campa, e a PM deu fé, os cabras se espalharam no monturo.

O sargento que chefiava a guarda do dia ajumentou e abriu o berreiro: - Aviem, que houve fuga de presos? E o pegapacapá começou.

O soldado por npome Júnior era o, digamos, mais robusto dos peemes da guarda, mas nem por causa daquela barriga enorme podia ser poupado, e foi um dos que, mandado a grito, pegou o Parabelo e ganhou a lapa, farejando os fugitivos, quando, por fim, o sol se escondeu.

Sem uma lamparina, uma poronga, o soldado Júnior embrenhou- se na mata, mas cabuloso, o medo de ser surpreendido por algum dos criminosos o fez diminuir o ritmo até o ponto de esfregar o bucho no chão, virado um calango.

Quando rastejou dois metros, ouviu uma zuada: - Rúuuu!

Soldado Júnior se levantou dum pulo, deu dos coturnos e correu pra trás.

Tropeçando, caiu debruços, quando sentiu um troço cutucando- lhe as costas.

- Não atire, seu Minino, que eu tenho dois filhos pra criar! Foi logo clamando.

Silêncio...

E o Soldado Júnior insistiu, sentindo o troço furando- lhe a gandola suada: - Não me mate!

Mas ninguém lhe respondia.

A valença foi a chegada de um colega de farda, que foi focando a lanterna e deu- lhe a notícia: - Soldado Júnior, você está enganchado numa taboca. Nós pegamos os presos já faz meia hora!

Até hoje se conta a história do Soldado Júnior entre os soldados da Polícia Militar do Acre.

MINIDICIONÁRIO DE ACREANÊS

ESCAMBICHADO – Pendurado

ALUIZIO QUEIRÓZ – Antigo chefe de polícia do Território do Acre

ABIROBANDO – Enlouquecendo

SEC. DE INTERIOR E JUSTIÇA – Antiga responsável pelo Sistema Penitenciário

AZULOU – Correu

TOCOU A CAMPA – Soou a campainha

AJUMENTOU – Correu

PARABELO – Arma de fogo

LAMPARINA – Luminária rústica à base de querosene

PORONGA – Lamparina que se usa como chapéu

GANHOU A LAPA – Tomou rumo ignorado

VALENÇA – Salvação

TABOCA – Espécie de bambu

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